"Bwin não devia patrocinar a Liga"

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Nasceu em Bragança, em 26 de Janeiro de 1967, há 40 anos. Assumiu a presidência do SJPF em Março de 2005. Joaquim Evangelista tem procurado defender os interesses dos atletas, denunciando diversos tipos de incumprimento por parte dos clubes.

Eleito, em Março de 2005, para suceder a António Carraça como líder do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, Joaquim Evangelista defende que há ainda muito a melhorar no futebol português. Não compreende porque a Liga é patrocinada por uma empresa de apostas e elogia o recente acórdão do Supremo Tribunal de Justiça.

Os jogadores vão poder rescindir livremente os contratos que os ligam aos clubes. Que comentário lhe merece esta possibilidade, resultante de um acórdão do Supremo Tribunal de Justiça ?

É uma decisão que tem repercussões a nível nacional e internacional. O Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol [SJPF] e a Liga Portuguesa de Futebol Profissional [LPFP] estão condenados a viver em conjunto, e é pena que a Liga apenas tenha acordado agora para este problema. Quanto mais depressa a Liga entender que o organismo sindical é um parceiro institucional de bem, mais depressa o futebol será beneficiado. Aliás, se existe algum agente desportivo que marque a agenda do futebol e que preconize soluções, esse agente é o sindicato.

O Jornal de Notícias noticiou, ontem, que os empresários dos futebolistas apenas declaram 10% do valor que realmente ganham...

É um problema que terá de ser resolvido pelos agentes desportivos. Os jogadores são o elo mais fraco na relação com os clubes, dirigentes e empresários, pois não são eles que definem as suas situações contratuais. Nas competições não profissionais [II e III divisões], por exemplo, impera o falso amadorismo, pois os clubes não declaram aquilo que pagam. Mas esta realidade não é exclusiva a Portugal.

Como vê o papel actual dos agentes (empresários) no futebol?

O sindicato está certo de que os agentes têm um papel a desempenhar no futebol português. Temos contribuído para eliminar alguns dos agentes não licenciados. O próprio presidente da Associação Nacional de Agentes de Futebol [ANAF], Artur Fernandes, tem de denunciar os agentes que não estão licenciados. Estou disponível para me reunir, em qualquer altura, com o presidente da ANAF.

Foi noticiado, há pouco tempo, que um futebolista da União de Leiria terá sido aliciado no sentido de prejudicar a sua equipa durante um jogo com o FC Porto, relativo à Supertaça...

Fiquei preocupado e surpreendido, porque toda a classe é atingida com esta notícia. Não acredito que seja verdade. No entanto, a ser verdade, trata-se de uma situação pontual e a justiça deverá punir os responsáveis.

Encontra alguma justificação para que se fale em aliciamento a atletas?

Quem é o principal patrocinador da Liga? É a Bwin, uma empresa de apostas online. Como é que queremos que não se discutam casos de aliciamento a jogadores, quando a Liga tem como patrocinador uma empresa de apostas?

Qual é a legitimidade do futebol para vir dizer que há situações anómalas? Não estou a fazer uma crítica à Liga, mas sim uma crítica ao sistema que a Liga herdou. Se a ética e a verdade desportiva exigem determinados comportamentos, não tenho dúvidas em afirmar que a Liga não deveria ser patrocinada pela Bwin. Não podemos, amanhã, quando aparecerem casos desta natureza, exigir responsabilidades aos outros. Há que fazer uma separação das águas. A relação Liga/Bwin pode criar problemas.

Reuniu-se, recentemente, com os capitães de equipa dos clubes da Liga e também da Liga de Honra...

Foi uma discussão salutar e saudável, que contou com uma participação maciça dos jogadores. Decidimos criar uma comissão que vai solicitar uma audiência ao Governo. A comissão é constituída por mim, João Pinto [Sporting de Braga], Emílio Peixe [ex-futebolista] e, ainda, pelos três capitães das equipas mais representativas da Liga: Pedro Emanuel, capitão do FC Porto, Simão Sabrosa, capitão do Benfica, e Custódio, capitão do Sporting. A comissão integrará mais três jogadores com peso no futebol português. Além de Vítor Baía [guarda-redes do FC Porto] e de Rui Costa [Benfica], queremos ver um outro jogador envolvido na comissão, Luís Figo. Fiquei de falar com Figo acerca da situação. A ideia é discutir, com ponderação e serenidade, os problemas relativos à profissão.

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